ALCACHOFRAS DA LUXÚRIA

Não mortas, apenas descansando... Ou algo assim, sei lá.

segunda-feira, julho 18, 2005

capítulo 4: "Noite Preta e Neon Pink"

resumo do capítulo anterior:
Filho da Puta, o herói de nossa história, elocubra com seus pais sua condição de adotado. Ignorando a revelação de que a Puta, sua mãe, é travesti, ele finalmente pergunta como pode descobrir mais sobre seu passado. Sua mãe diz que só tem uma dica para dar: um lugar...
Enquanto isso, o autor da novela finalmente ouve o clamor popular e resolve parar de enviar capítulos para o MSN das pessoas. Cria esse site num momento de desespero por sentir que a frequência diária está indo para o saco, mas não pode assumir que a partir de agora a novela sairá a cada dois dias pois não faz idéia da forma certa de dizer isso! Bidiária? Diáriadoppia? Dois-ária? O quê? Mas enfim, ele infla o peito e enchendo-se de coragem PROCLAMA: agora saem capítulos novos toda segunda, quarta e sexta. Aqui no http://alcachofras.blogspot.com (ou no MSN de quem pedir)!


capítulo de hoje:

Meu nome é Puta, Filho da Puta.

Bizarro é depois de velho descobrir que sou apenas Filho da Puta em nome e jeito, mas não em genes. Até porque minha mãe, a Puta, é um travesti. E de repente eu entendo porque sempre achei, na hora da mamada, que os peitos dela tinham gosto de Pirelli.

Depois dela dizer o lugar onde eles me encontraram, eu deixei os dois no meu apartamento e saí pra rua, disposto a encontrar meu passado, meus verdadeiros pais, ou pelo menos os 15 paus que eu perdi em algum lugar por aqui quando voltava do banco hoje.

A noite me abraçou como uma velha amiga, e ainda me perguntou por onde eu tinha andado. "Eu não andei baby, foi o mundo que andou, foi minha vida..."

"Hein?!" - me perguntou a noite, e como eu não tava afim de perder tempo explicando, mandei ela calar a boca e continuar por aí escurecendo tudo.

Fui procurar o lugar, exatamente na rua que minha mãe disse que ele ficava: Rua Augusta, o show-room de putas e paetês da noite paulista.

Não posso dizer que me sinto em casa lá, mas apenas porque vira-latas como eu não possuem casa. Nosso único teto é a noite.

"Chamou?"- perguntou a noite, mas fingi que não era comigo.

Passei pela Praça Roosevelt, uma homenagem a presidente americano que tem de um lado uma igreja e de outro a putaria. Cortei umas ruelas e pumba, cheguei na Augusta. Não, eu tô falando da RUA, e não da Tia Augusta que organizava viagens.

Essa eu sempre odiei. Tentei ir pra Disney com ela, mas disseram que não podia pois meu nome não ia ficar bonito no crachá.

Foda-se! Quem precisa da Disney? Quem quer ver aqueles castelos? Quem quer ficar cantando "Naaa mooontaaanhaaaa eeeeenncaaantaadaaaa..."?

Certo... Eu queria... Mas superei...

Sequei minhas lágrimas e tirei da cabeça a Tia Augusta. Não era hora de traumas passados.

Segui mais um pouco e encontrei a primeira puta da rua, que tava lá conversando com um velhinho que tava mais torto que o pára-choque do meu fusqueta.

Falei o nome do lugar onde eu queria ir e perguntei se ela sabia onde era. Ela respondeu que não sabia, mas que a punhetinha era 10 e o boquete 15.

Temos sempre que manter o foco e a seriedade, então perguntei se não rolava preço melhor pelo combinado dos dois. Ela respondeu que os dois juntos eram 30.

Perguntei se ela achava que eu era bobo, que era óbvio que tinha ficado mais caro e que eu pagava vintão!

Ela topou, e fez um gesto pro velhinho que se levantou estalando os dedos e os lábios.

Sacanagem cafetinar velhinho! Bá, mas eu sempre tive curiosidade pra saber como era um boquete só na gengiva. Pena que o tiozinho era mó trapaça, e metade da punheta foi só a tremedeira do mal de Parkinson dele.

Mas enfim, depois, já limpando as gengivas com um pedaço de jornal, ele olhou bem fundo nos meus olhos e disse:

"Alcachofras..."

Bizarro...

Deixei os dois lá e comecei a subir a rua. Foi quando vi algo ainda mais bizarro.

Tinha um coelho branco. Não, sério... Não um cara vestido de coelho branco. Um de verdade, parado no ponto de ônibus. Ele olhou pra mim e perguntou:

"Ei, você pode me emprestar 2 contos? Fui assaltado e me levaram a grana do ônibus..."

Peguei uma nota de 2 reais, mostrei pra ele, falei o nome do lugar que eu estava procurando e perguntei se ele sabia onde era.

"Sim." ele me respondeu.

Ficamos os dois em silêncio, por uns três minutos, até eu perceber que era uma boa idéia perguntar onde era o lugar.

"Um quarteirão daqui, pra lá. É o lugar com mais neons rosa na entrada."

Guardei o dinheiro no bolso. Então, num impulso repentino, perguntei o que ele sabia sobre alcachofras.

"Depende do tipo. As normais são borrachentas. Outras são especiais. Mas e minha grana?"

Falei que já que ele era um coelho, o melhor era ele descolar grama. Ele ainda reclamou que não era uma vaca, mas eu já tinha me afastado.

A fauna noturna de uma cidade. Putas, velhos e coelhos. Todas as cidades são assim.

Digo, acho... Só conheço São Paulo. Ia conhecer a Disney também, mas a porra da Tia Augusta não deixou.

Finalmente eu cheguei no lugar. Era rosa. Muito rosa.

Puteiros sempre são espalhafatosos, mas aquele era a Elke Maravilha dos puteiros.

Tanto que brilhava que você quase não lia o nome: Saigon - Terra da Luxúria.

Tinha um balcão logo na entrada. E atrás do balcão estava o mesmo coelho branco do ponto de ônibus. Fingi que não o tinha reconhecido.

"Ei, você é aquele filho da puta do ponto de ônibus!" - o coelho falou, ignorando completamente minha tentativa de ignorá-lo.

Falei que ele devia estar me confundindo com algum outro filho da puta. Perguntei se as coisas estavam boas lá dentro, e ele me apontou uma plaquinha que estava na parede.

Era um recorte da VejaSP, da coluna puteiros. O título dizia: "Saigon: onde os homens que conhecem o Ponto G descobrem o resto do Alfabeto."

"Pra entrar é vintão..."

Mostrei uma nota de vinte, aquela que tem cor de embalagem de amendoim, e perguntei qual era a capital da Bielo-Rússia.

Ele não sabia, então guardei a nota e entrei.

"Tchautchau bonitão! Até daqui a pouco..." - sussurou a noite.

"Você conhece esse pulha? Então pode ir me pagando os vintão da entrada dele!" - reclamou o coelho.

"Porra... Sempre morro com a grana..."- choramingou a noite.

Lógico. Sou filho da puta. Mulher é que me paga as contas. HÁ!

Nessa hora que percebi que errei ao entregar a grana pra puta que cafetinava o velhinho. Eu devia antes ter pedido o telefone dele.

Lá dentro era o de sempre pros picos daquela área. Umas minas quase bonitinhas, outras quase horrendas. Uns velhinhos e uns manés. Tinha um cara vestido de Ronald McDonalds, mas eu nunca presto muita atenção em fanáticos fundamentalistas.

E tinha um palquinho. E ligaram um holofote no palquinho.

"E com vocês... A deusa que vocês vieram assistir..." - começou a anunciar um narrador com voz de quem tinha perdido metade das cordas vocais numa partida de poker na década de cinquenta - "A mulher que é tão acima de todos vocês que não dá pra ninguém, apenas faz leasing... A estrela ascendente da putaria..."

Ouvi o nome dela, mas quase não registrei... Meu cérebro já estava totalmente tomado pelo que meus olhos estavam enviando.

Aquilo não era uma mulher. Digo, biologicamente até era uma mulher, mas assim olhando pra ela era impossível não achar que ela devia estar acima dessas coisas mundanas de gene X e Y... Tão maravilhosa que ninguém se importou quando ela escorregou no palquinho e caiu. Que graça ao cair... Que leveza ao entrar de fuça no banquinho... Que delicadeza ao voltar para o palco chutando o marinheiro que aproveitou pra meter a mão na peitolaria dela.

Ali vi que o mundo tinha andado de novo. E que dessa vez, pelo menos, eu sabia o nome da culpada.

Flor de Eucalipto...

(continuo no próximo capítulo
5: "Pholias Esphuziantes no Phuteiro" )

2 Comments:

At 9:42 PM, Blogger Poe Bellentani said...

AWHAWHWAHAWHAWHAWHAWHAWHAWHAWH

(meus comentários, veja, são os mais profundos!)

 
At 9:49 PM, Blogger Adriano Vannucchi said...

ahahahah, não esperava menos de você, meu amigo.
abraços!
a

 

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