capítulo 8: "PUM!"

resumo dos capítulos anteriores:

E no começo, havia o nada.

Erm... Me desculpem... Não era pra começar assim... É um velho vício que eu tenho, sabe? Sempre começo a contar histórias assim.

Não reparem minha presença por aqui. O que ocorre é que Odair Leme, agindo como a Diva que ele finge ser, falou que só ia entregar seu primeiro capítulo na semana que vem. O Adriano Vannucchi viu-se com um problema, pois já tinha aceito compromissos que o impediam de escrever mais um capítulo da novela.

Então ele me convidou a ser o narrador especialmente convidado desse capítulo.

Aqui quem está falando é Deus. Sim, o próprio Deus. Aquele. O Barbudão. O Bam-bam-bam. Digamos que o Adriano pensou que já que ele ia ter que convidar um narrador para esse capítulo, então ele podia tentar arranjar alguém que fosse algo além de um simples escrivinhador, capaz de produzir apenas mais um texto com narrador onisciente, mas sim arranjar O narrador verdadeiramente onisciente: Eu. Deus.

E já que o Adriano é um dos pináculos de minha criação, resolvi dar o ar de minha graça por aqui.

Bom, findas as apresentações, hora de começar a labuta.

No capítulo anterior, vós viuvos que... Errm... Vós presenciastes as cena que fizeram vós arregalartes...

Ah droga...

Ok, vocês terão que me perdoar, meus filhos... Admito que sempre me atrapalho com essa maldita conjugação do Vós. Pra ser sincero, acho a 5ª pessoa verbal um dos meus maiores erros, junto com a fome, as guerras, as doenças e a criação da banana.

Não, não vou explicar porquê criei as bananas... É muito complicado. Digamos apenas que de vez em quando nós criadores tomamos decisões erradas, sabe? Estamos lá tão empolgados com o fluxo de idéias que de repente... PUMBA! Criamos uma banana sem perceber, e depois você fica vendo sua criação e pensando. Pô, até que ficou legal, mas seria tão mais legal sem essa maldita banana...

Tá, eu sei, vocês e seus primos, os macacos, gostam dessas bananas... Verdade, isso tem muito a ver com a razão deu ter criado essas porcarias. O que eu posso dizer? Pareceu uma boa idéia na hora.

Vocês tem que entender o que é o impulso no meio do processo criativo. Por exemplo, quando Eu decidi que estava na hora de criar a Racionalidade e deixar uma raça dominar todo o planeta Terra... Admito que eu estava preparando os golfinhos para isso... Eles são perfeitos! Amistosos, trabalham em grupo, gostam de brincar, são inteligentes, fofinhos...

Pombas, porquê vocês acham que a maior parte da Terra é feita de água? Óbvio que era pros golfinhos dominarem ela toda, oras... Já estava tudo pronto...

Mas daí, de repente, eu percebi aqueles outros bichos peludos... Não sei o nome que tinha a espécie deles. E eu lá tenho cabeça pra ficar dando nome em tudo que crio? Eu sei que vocês depois inventaram algum nome estúpido como Simius Anticus Qualquercosum. Uma das coisas mais irritantes que vocês possuem é essa mania de dar nomes idiotas pra coisas... Por exemplo: Quem foi o idiota que achou que FRONHA era uma palavra boa pra definir alguma coisa? Se eu soubesse quem é, esse imbecil já tava queimando no inferno! Bom, talvez até esteja, sei lá o que mais de errado ele fez...

Mas enfim, é disso aí que eu estou falando. Digo, não de fronhas. Dos macacos. Ou melhor, dos ancestrais dos humanos e dos chimpanzés. Elo perdido e tal.

Eles estavam se desenvolvendo meio sozinhos, um lado da evolução que estava prosseguindo meio por acidente e com uns defeitos passando, afinal eu não estava olhando com tanto afinco assim.

Daí eu já tava com a Racionalidade prontinha, prontinha. Era só entregá-la para os golfinhos e dizer "Levantem e Pensem meus filhos...". Era justamente o que eu ia fazer, quando ouvi uns guinchos. Olhei para o lado e vi...

Tinha dois grupos daqueles bichos peludos. Eles estavam brigando por causa de comida. Fiquei meio zangado. Pô, um momento tão importante e aqueles chatos ficavam guinhando e se atacando só por causa de comida? Pensei em alguma coisa que pudesse resolver aquela situação e PUMBA! Criei uma bananeira bem entre eles. Pus bastantes frutas em cada cacho só pra ter certeza que todos teriam o que comer.

Estão vendo? Crio sem planejamento e acabo saindo com uma bobagem dessas...

Mas enfim, achei que tinha resolvido a questão e fui olhar de novo os golfinhos. Foi quando voltaram a vir guinchos lá da floresta.

Voltei, já pensando em transformar todo mundo em sal quando percebi que eles estavam brigando pela posse da bananeira. Ainda querendo me concentrar na tal da Racionalidade, cometi um erro maior e, num gesto, espalhei aquelas plantas por toda parte. "Com várias delas por aí eles vão para de brigar", pensei.

Sim, meus amigos... É por isso que existem bananeiras esparramadas por todo o planeta. E ele seria tão mais legal sem essas porcarias esparramadas por aí...

Fui de novo cuidar dos golfinhos, mas novamente os malditos guinchos de briga vieram.

Eu já ia fazer chover fogo sobre aquelas desgraças quando entendi que eles agora estavam brigando pra ver quem ficava com mais bananeiras. E foi só nessa hora, quando eu fui pensar como resolver isso, que eu vi como é que eles estavam brigando.

Eles cagavam nas próprias mãos, e arremessavam uns nos outros.

Quando eu parei de rir daquela cena, pensei: "Ah, mas que diabos... Tudo bem que os golfinhos são os mais indicados, mas... Mesmo raciocinando, ele vão ser só um grupo de amiguinhos nadando juntos eternamente, vivendo na mais profunda paz e harmonia..."

Você vão ter que concordar comigo que ia ser um PUTA TÉDIO ficar aqui em cima assistindo isso! Então pensei que ia ser mais divertido ver aqueles macacos peludos evoluírem.

E foi assim que eu, numa só tacada, criei as bananas e deixei os macacos ficarem racionais.

É, eu sei... Fui impulsivo. Mas também não precisam me condenar... Pensem assim, quando vocês estão na rua e percebem que dois carros vão bater, vocês ficam olhando, não ficam?

Não tenho culpa se a proximidade de um desastre é tão empolgante... Eu também sou humano, poxa, e achei que podia acabar resolvendo a questão depois, após vocês terem causado todos os desastres possiveis, quando eu já tivesse rido bastante.

Certo, Eu sei... Errei nessa também... A verdade é que as falhas de vocês eram maiores do que achei inicialmente... Ah vai, também acho que é compreensível, poxa. Foi a primeira vez que Eu criei um Universo e acho que me saí muito bem apesar de minha inexperiência e tal. Até consegui fazer com que as estrelas parassem de ficar batendo umas nas outras o tempo todo. Pô, eu só tinha um punhado de bilhões de anos de idade nessa época, praticamente uma criança, dá pra entender um ou outro arroubo de irresponsabilidade criativa, concorda?

Ok, eu sei que com isso criei uns problemas, mas vocês precisam ver que não é fácil consertar...

Digamos assim: vocês matariam todos os seus peixes apenas para refazer o aquário? Ou vocês acham o quê Que Eu tenho ali no armário da cozinha um Universo Vazio perfeito pra deixar vocês enquanto arrumo a casa no Universo Oficial?

Ah, enfim, já estou me perdendo de novo.

Bom, vejamos... No capítulo anterior... Ah sim, o Filho da Puta, após o reencontro emocionante com sua irmã gêmea, recebeu a visita inesperada de Gerundina, a única mulher que ele já amou em sua vida.

Mas Gerundina falou que, apesar de todo o amor que sentia, ia ter que matar o Filho da Puta, pois não podia deixá-lo dominar o mundo.

Mas que vaca! E porquê não?!? É só um mundinho, não é nem o Universo nem nada!

Bom, então Gerundina atirou, deixou Flor de Eucalipto caída em meio à uma poça de hemácias e neurônios, e avisou que agora era a vez do Filho da Puta.

Não sei vocês, mas... Lendo tudo isso eu só posso dizer o seguinte: PUTA história triste!

Certo, certo... É, Eu fico meio viajando. Por isso que eu tive que abandonar minha idéia de escrever a Bíblia como auto-biografia e no lugar colocar aquele monte de ghost-writers. Admito que doeu um pouco ver o quanto os caras distorceram minhas palavras e falaram que Eu fiz umas coisas que não fiz. Pô... "Cresceivos e Multiplicaivos"? Que merda é essa? Quem disse que eu falei isso pros homens? Foi pras amebas, poxa, explicando que quando elas cresciam, elas se dividiam... Alguém já viu um humano se dividindo depois de crescer?



Bom, mas descansem meus filhos... Justamente por essa experiência eu sei o quanto dói para nós criadores ver sua obra ser erroneamente modificada por outros. Eu já fico triste pra caramba cada vez que um de vocês faz um piercing ou uma tatuagem ou muda a cor de cabelo, oras! Mania de ficar mudando o que eu criei!

Enfim, Fiquem tranquilos que justamente por tudo isso, vou tentar ser o mais fiel possível ao estilo dos outros capítulos. Vou usar minha onisciência para dominar com perfeição a história e o estilo do autor. Vou ser totalmente fiel ao criador original, afinal...

No fundo criar uma novela é igual a criar um universo. Dá pra fazer direitinho, é só começar pequeno e ir acrescentando tijolinho por tijolinho.

Então, com vocês o:

capítulo de hoje:

A arma disparou. PUM!

(continua no próximo capítulo:
9: "Rap Serelepe" )