ALCACHOFRAS DA LUXÚRIA

Não mortas, apenas descansando... Ou algo assim, sei lá.

quinta-feira, agosto 04, 2005

capítulo 10: "Amar É... Aquele Álbum Das Criancinhas Cabeçudinhas"

resumo dos capítulos anteriores:

Nosso hamletiano herói, o Filho da Puta, enfrentou Gerundina e após um duelo sem tiros - digníssimo herdeiro Tarrantinesco, me atrevo a dizer - conseguiu resolver a situação num blefe de mestre, arrancando um vitorioso empate.

Após a saída de Gerundina, nosso herói parou pra resolver o pequeno problema de sua irmã, que estava deitada no solo com o cérebro vazando pelo buraco recém-aberto em sua cabeça. O corpo dela morreu, mas o Filho da Puta conseguiu colocar sua alma em outro corpo, o do Coelho Branco que cuidava da entrada do puteiro.

Acabamos o capítulo assim: O espírito do Coelho Branco foi para um lugar melhor. O Filho da Puta, depois de pegar e esconder algo que estava no fundo do puteiro, foi embora levando sua irmã. E Flor de Eucalipto sabe que a partir de agora a frase “eu quero sua cenoura” perdeu toda a malícia.

E só para lembrar, todo esse rolo começou porque o Filho da Puta ouviu de seus pais, a Puta e o Desconhecido, que ele na verdade é adotado.

Já Odair Leme, traumatizado, jurou nunca mais rimar na vida.
Nunca.
Nem em samba.
Mesmo ele sendo um bamba.
AAAAAGH!!!
E hoje vamos incorporar mais um elemento clÁÁÁssico da narrativa folhetinesca televisiva que ainda não tinha dado as caras por aqui:
O núcleo paralelo de personagens!
Vai, admitam que vai ser bacana dar uma mudada na paisagem
Hum... Ok, essa quase rimou. Preciso tomar mais cuidado.
Enfim...


capítulo de hoje:

O Desconhecido estava na sala, chorando enquanto folheava seu bem mais precioso: a coleção completa da revista Marie Claire.

A Puta, sua esposa, entrou na sala.

“Desconhecido, meu querido, você não vem dormir? Você está aí desde que chegamos.”

“Agora estou procurando algo. Vai dormir, eu vou depois...”

“Você nunca me deixa ir dormir sozinha... Eu te conheço, Desconhecido, tem alguma coisa te incomodando. O que é?”

“O que é? O QUE É? Depois de 30 anos juntos eu descubro que minha mulher é um travesti e você pergunta o que é que está me incomodando?” - o Desconhecido aponta para região genital da Puta - “É isso aí que está me incomodando!”

“Ah, essa bobagem? Hoje em dia ele mal sobe, Desconhecido... Vem dormir vem?”

“Como que eu posso dormir? Eu fico pensando em todas as vezes que a gente dormiu de conchinha, quando você ficava atrás e durante a noite eu sentia algo me cutucando... E pensar que eu acreditei quando você disse que nosso colchão tinha um ultra-moderno pino de segurança para evitar quedas!”

“Você me dizia que dormia bem assim...”

“Eu me sentia mais seguro, tá legal?” - resmungou o Desconhecido - “Só porque sou homem não posso ter minhas inseguranças?”

“Desconhecidiiinhoooo... Não tenho culpa se você tem medo do escuro!”

“Olha, depois do que eu descobri hoje acho que eu passei a gostar muito mais do escuro, viu? Nem quero pensar o que ele me poupou de ver!”



“Ah Desconhecido, não exagera! Enquanto você não sabia, tudo bem esconder... Mas agora que você já sabe...” - a Puta então sorriu - “Quer que eu te mostre meu piu-piu? O nome dele é Clodoaldo!"

“Você deu para seu pau o nome do meu avô?!?”

“Ah, que que tem? Eu chamava ele só de piu-piu mesmo, digo, eu chamava de piu-piu o meu piu-piu, não o seu avô, mas sei lá, com o tempo eu comecei a achar tão infantil, tão impessoal. Daí, quando conheci seu avô, a primeira coisa que eu pensei foi: ‘Hum, o nariz dele está escorrendo...’”

“Ele tinha rinite, tá? Acontece nas melhores famílias!” - indignou-se o Desconhecido.

“Ah, na verdade até que eu achei bonitinho... Era até charmoso o jeito que o bigode dele ficava brilhando. Mas enfim, quando eu ouvi o nome dele, Clodoaldo, eu pensei: 'nooOOooossaaa... ESSE é um nome másculo... Quer saber? Várias mulheres tem um piu-piu, mas garanto que nenhuma delas tem um piu-piu chamado Clodoaldo!'”

O Desconhecido apertou sua cabeça entre suas mãos, em desespero e então falou:

“Eu não acredito nisso... Eu sempre chorei porque meus pais tinham me dado o nome de Desconhecido ao invés de homenagear meu avô me chamando de Clodoaldo. Agora descubro que minha mulher botou no pinto dela o nome de Clodoaldo e só o que posso fazer é me perguntar: Porque eu não tive essa idéia ao invés de chamar o meu de Bochechinhas?”

“Bochechinhas, Desconhecido? Mas de onde surgiu isso?”

“Ah, você sabe... Minhas bolas? Um homem bochechudo?” - o Desconhecido inchou as bochechas pra demonstrar e depois completou - “com um nariz bem comprido?”

“AAAaaah Desconhecido... Só você pra pensar numa coisa dessas na hora de batizar seu piu-piu! Você é tão meigo, por isso que eu te amo...”

“Droga... Eu também te amo Puta querida, e você sabe disso. Esse é o problema! Quer dizer, ok, você mentiu para mim, podia ter me dito que na verdade é homem... Sei lá, nem que fosse antes de nossa cerimônia de 25 anos de casados...”

“Eu tava linda naquele dia usando aquele vestido... Lilás é a minha cor!”

“Você tava gata mesmo...” - o Desconhecido então assustou-se - “ah meu Deus, eu quase me corrigi e disse que você estava um gato.Como eu posso viver com uma mulher sem saber se a elogio no masculino ou no feminino?”

“Nossa, isso aqui já tá ficando meio música do Ney Matogrosso né?”

“NÃO ME FALE COMO É SEU PAU!”

“Não, surdinho, tô falando do Ney Matogrosso, MAAAtogrosso... Não é do meu Clodoaldo que eu tô falando, não. Até porque ele é bem mirradinho...”

“É, o Ney é magrinho mesmo.”

“Não, não... Digo, sim, ele é... Digo, também...” - a Puta coçou a cabeça confusa - “vamos voltar ao assunto anterior?”

“Certo... Então, é óbvio que eu te amo, Puta, mesmo uma revelação dessas não vai apagar todas as recordações que eu tenho de nós dois juntos. Mas, eu sempre senti que te conhecia inteira, que conhecia cada pedacinho seu! Como ficam meus sentimentos agora que eu descubro que ainda faltava conhecer esses, sei lá, dez, quinze centímetros?”

“Na verdade, em dias bons ele chega a 18...”

“Ainda por cima é maior que o meu...” - lamuriou-se o Desconhecido e depois apontou para as pilhas de Marie Claires - “Eu estou aqui a noite inteira lendo minha coleção, a seção de depoimentos das leitoras, contando as histórias das relações delas... Procurando por respostas que possam aplacar meu sofrimento eu já li todas: “Conheci meu marido numa batida de automóvel”, “Meu Verdureiro, Meu Amante” e até “Meu marido me trocou por uma anêmona e mesmo assim eu sobrevivi”.

“Adorei essa última, mas deve ser porque sempre achei anêmonas um bicho MUITO sexy...”

“É, eu também. Mas a questão é que nenhuma delas me fez superar esse choque! Descobrir que fui enganado... Que você estava só fingindo que era uma mulher de verdade... Eu devia te denunciar pra Delegacia da Mulher!”

“Desconhecido, não pense que você pode procurar a Delegacia da Mulher me denunciando como se eu fosse algum tipo de falsificação...”

“Ah, que beleza, por isso que esse país não vai pra frente... Sua mulher você não pode denunciar, agora se você fosse uísque falsificado era facinho, facinho...”

“Escuta aqui, agora é minha vez de falar...” - a Puta sentou-se na poltrona - “senta aqui no meu colinho, senta? Do jeito que você sempre faz?”

“Tenho medo...”

“SENTA LOGO!”

O Desconhecido sentou, mas ainda fez um muxoxo - “só porque você pediu com jeitinho...”

“Então... Desconhecido, pensa bem! Não é porque você descobriu que eu sou homem que as coisas precisam mudar entre nós. Eu ainda vou ser a sua Puta de sempre e você o meu Desconhecido que eu sempre amei. Ainda vamos ser marido e mulher.” - então a puta percebeu que estava em terreno pantanoso e completou - “VOCÊ o marido, e EU a mulher...”

“Mas Puta, será que conseguiremos manter essa mentira? Por exemplo, quando alguém fizer alguma piada tipo perguntar quem de nós dois é que usa cuecas nessa casa... Agora eu vou ficar em dúvida, pô!”

“Eu nunca uso cuecas porque o elástico marca minha pele. Mas eu juro Desconhecido, ninguém vai saber que eu sou homem, ninguém vai perceber nunca...”

“Jura?”

“Eu já menti pra você?”

O Desconhecido arregalou os olhos, mas antes que pudesse dizer algo, a Puta tascou-lhe um beijo tão forte que trincou o dente frontal de seu homem.

Finalmente cedendo, o Desconhecido começou a retribuir o beijo e abraçou-a também, embora mantendo as mãos à uma distância segura da linha da cintura. Caíram da cadeira. Entrelaçaram as pernas. Rolaram abraçados pelo chão como tinham feito no dia em que se conheceram 30 anos atrás, numa partida de rúgbi em que o Desconhecido jogara de atacante e a Puta de defesa.

Uns 45 segundos depois do fim do beijo, após o Desconhecido recuperar o fôlego, ele começou a alisar os cabelo da Puta e sussurrou - “você é linda... E esse seu beijo... Pelo menos o lado bom compensa o fato deu ter sido enganado todo esse tempo. Agora, admito que ainda me pergunto como você conseguiu...”

“Ah amor... É só saber apagar a luz e fechar a porta do banheiro na hora certa... Além disso ajuda muito ter aparência e jeitinho tão femininos quanto os meus” - respondeu a Puta enquanto coçava distraidamente seu pomo-de-adão - “Mas me responde com sinceridade, você nunca sentiu o voluminho?”

“Voluminho?”

“É, Desconhecido, você sabe...” - impacientou-se a Puta e depois apontou pra baixo - “O Clodoaldo...”

“Ah, sei lá... Eu achava só que você tinha o maior clitóris que eu já encontrei...”

“E nunca comentou nada?”

“Achei que você podia ter algum tipo de trauma...”

A Puta sorriu - “Aaah Desconhecido, por isso que eu me apaixonei, você realmente conhece as mulheres! Mas agora, vaaai, eu prometo nunca mais esconder nada de você...”

“Bem, pra ser sincero Puta, eu acho que prefiro que você continue escondendo o Clodoaldo de mim...”

“Só se você me perdoar...”

O Desconhecido riu antes de falar - “Claro que perdôo... Como eu poderia não perdoar a minha Puta? Acho que só preciso me forçar a esquecer o que você tem entre as pernas e pensar em todo o resto. É isso!”

Ela sorriu e depois brincou:

“E prometo que sempre que perguntarem quem que usa cuecas no nosso casal eu vou apontar pra você, tá?”

“Ah, Puta... E prometo que, se algum dia você quiser usar cuecas, eu te empresto uma das minhas, ok?”

“Ai, Desconhecido... Essa é a coisa mais bonita que já me disseram!”

Os dois se beijaram novamente.

“Desconhecidoooo? Sabe o que eu queria agora que nós fizemos as pazes?”

“A paz mundial?”

“Não, isso eu já peço pro papai do céu toda noite quando rezo... Eu queria outra coisa...”

“O quê?”

“Sexo...”

O Desconhecido olhou para a Puta e disse:

“Adoro quando você fala sujo, Puta!”

“Sim, Desconhecido, quero trepar com você. Quero que você me coma tão forte que minhas bol... suas bolas vão ficar balançando mais que peito siliconado no carnaval. Quero gritar e gritar de prazer tão forte que vão até achar que nós estamos ouvindo Tim Maia...”

“Falando nisso... Agora que eu entendi porque sua voz é tão rouca...”

“Dá pra parar de me interromper e vamos logo fazer amor? Fazer sexo?” - a Puta deu uma piscada sugestiva - “Fazer neném?”

O Desconhecido começou a chorar, então a Puta desculpou-se:

“Tá Desconhecido, desculpe, reconheço que foi insensível da minha parte falar em ‘fazer neném’ numa hora dessas... Vai, vem aqui, vem? Me pega com força! Me chama de Puta!”

“Pô, Puta, você e essa mania deu só poder te chamar pelo seu nome... Deixa eu te chamar de outros jeitos hoje, vai?”

“Você sabe que eu odeio adjetivos...”

“Pô, só hoje! Tipo... Amor? Benzinho? Chuchuzinho? Meu virabrequim? Acho que hoje eu mereço, vai?”

A Puta sorriu lânguida antes de sussurrar:

“Tá, só hoje então... Agora olha, olha só o que eu tenho aqui pra você...”

“Hummmm...”

“Vai, vem? Põe logo ele aqui dentro, põe?”

“Sem lubrificação mesmo? Me arranca todos os pêlos...”

“Hoje tem que ser selvagem! Isso, põe! Mais rápido!”

“Espera Puta que agora travou no meu joelho...”

“Força que ele passa. Isso, agora a outra perna!”

“Nossa Puta, hoje nós dois estamos realmente calientes... Nunca minhas duas pernas entraram tão fácil...”

“Agora já passou até sua barriga... Hummmm... Essa é a melhor parte do nosso jeito de fazer sexo, sabia? Te ajudar a colocar sua roupa de mergulho...”

Depois de fechar o zíper, o Desconhecido levantou-se, ajustou a máscara de mergulho e ronronou. Finalmente girou e, lentamente, foi na direção do quarto. De lá de dentro ele perguntou: “Puta, você sabe onde eu guardei meus pés-de-pato?”

“Acho que tão no criado-mudo, amor... Você aproveita e traz minha bola de basquete?"

O Desconhecido passou pela porta e arremessou a bola de basquete. A Puta pegou-a no ar e começou a lambê-la. Então ela parou, e disse:

“Hoje nós vamos trepar tanto que vamos até derrubar essas paredes.”

Foi nessa hora que a parede caiu sozinha. Pelo buraco entraram homens vestidos com roupas camufladas, segurando sub-metralhadoras.

“NÃO SE MEXAM!” - gritou um deles...

"Aiii... Homens de uniforme!" - horrorizou-se a Puta.

“Adoro homens de uniforme...”- gemeu o Desconhecido...

“E por favor também não digam coisas assim...” - enojou-se o homem.

Foi nessa hora que, pelo buraco, entrou Gerundina. Ela olhou primeiro pra Puta, segurando a bola de basquete e depois pro Desconhecido, usando a roupa de mergulho e ficou tão surpresa que até perdeu a fala, não conseguindo dizer a piada que o autor da novela tinha criado para ser dita nesse momento.

Já a Puta, ao ver o script da novela indo pro saco (no sentido metafórico, nesse caso...), decidiu improvisar e gritou:

“Ei! Será possível que um casal de bem não pode nem mais fazer um sexozinho de forma cristã?”

Gerundina olhou novamente para os dois, virou-se pro lado e resmungou:

“Acho que eu vou estar vomitando...” - mas então voltou-se para os dois e disse - “mas antes, vocês dois vão estar me contando tudo que eu estou querendo saber?”

“O quê você quer saber?”

“O que mais vocês vão estar podendo me dizer para eu estar descobrindo quem estão sendo os verdadeiros pais do Filho da Puta?”

(continua no próximo capítulo:
11: "Blábláblá-blábláblá!!!" )

6 Comments:

At 1:47 AM, Blogger Gabriela said...

o melhor é o título!
aaaah, anos 80...

 
At 1:35 PM, Blogger Adriano Vannucchi said...

Opa, a década de 80 traumatizou uma geração.

beijos
a

 
At 9:03 PM, Anonymous Anônimo said...

Isso não é justo!!! Agora quem vai pagar a parede da casa deles??
Sabe gente, se fosse um enchente, tudo bem, mas homens fardados derrubando a parede??? Não tá certo!! Temos que fazer alguma coisa....
Vamos "pissoas" levantem, gritem, se manifestem e....


me avise quando terminarem!!

Att

O leitor

 
At 10:07 PM, Anonymous Anônimo said...

uhauhuhahuah

Mas, perae... "tarrantinesco"?

pttttuuuu!

 
At 1:20 AM, Blogger Adriano Vannucchi said...

Cacau, as pessoas se levantaram!
E justamente derrubaram a parede.

abraços
a

 
At 1:24 AM, Blogger Adriano Vannucchi said...

Pô, sei lá cara... Sei q ficou estranho com dois erres, mas achei que tarantinesco ficava meio tarantela, sei lá... huah!

Mas agora me diga, Ó nobre filho de Tamburini e Liberatore... Já posso anunciar seu blog?

abraços
a

 

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