capítulo 13: "Azar É Pra Quem Não Tem Sorte"

resumo dos capítulos anteriores:

O Filho da Puta, o herói de nosso folhetim bloguístico, descobriu em menos de 24 horas que:
- é filho adotivo da Puta e do Desconhecido, e também que aquela que ele achava que era sua mãe, além de não ser sua mãe biológica, é um travesti.

- tem uma irmã gêmea chamada Flor de Eucalipto, e ele viu ela levar um tiro na cabeça e transplantou seu espírito para um corpo de coelho.

- que no seu passado encontram-se as pistas para as Alcachofras da Luxúria, que podem torná-lo dono do mundo.

- que Gerundina, a única mulher que ele já amou em sua vida, quer impedí-lo de assumir seu lugar de direito como gran-master-imperator de todo o planeta e que para isso ela está disposta inclusive a matá-lo - como tão bem demonstrou ao disparar a bala que quase matou Flor de Eucalipto.

- que seus pais adotivos corriam perigo pois Gerundina estava lá junto com os soldados de sua milícia militar religiosa de extrema direita, os Pronomes.

- que o homem que metralhou dois soldados de Gerundina, salvando o Filho da Puta, sua irmã e seus pais adotivos, chama-se Deus. É, é ele mesmo. Deus. Aquele que mora no céu. Digo, pelo menos na maior parte do tempo.


O que o Filho da Puta ainda não sabe:
- se seus pais tem mais pistas sobre seu passado.

- se eles contaram algo para Gerundina, que foi embora antes do tiroteio começar.

- a capital do Azerbaijão.

- o que cargas d'água são as malditas alcachofras.


O que Odair Leme, autor da novela, ainda tem que decidir:

- o que aconteceu com o espírito do coelho branco.

- como amarrar todas as pontas soltas nessa bagunça toda.

- se deve comprar o papel higiênico perfumado ou não.


capítulo de hoje:

"Ok meu amigo... Eu posso não ser lá do tipo muito religioso, mas sei de uma coisa ou duas. Concordo que você até que fica parecido com Deus por causa desse disfarcezinho com essa sua barbona branca e esses relâmpagos saindo de seus olhos, mas... E o camisolão branco? Quer me enganar que Deus agora anda por aí usando regata e calça camuflada?" - resmungou o Filho da Puta.

"Pô, achei que aqueles trapos iam me atrapalhar na hora da ação!" - Deus deu dois soquinhos no ar - "mas eu cuidei deles, hein? Depois de milênios lá em cima eu tava louco por um pouco de ação..."

"Qualé? Mó velho freak que daqui a pouco vai falar que luta jiu-jitsu! Vai dizer que vocês estão acreditando nesse cara?" - revoltou-se o Filho da Puta - "ele nem sequer fala como Deus! Cadê a pompa? Cadê os Vós? Vai dizer que Deus não é mais formal que isso aê?"

"Meu filho..." - disse Deus, pacientemente - "eu sou um criador... Um artista! Você queria o quê, que eu falasse como engenheiro? Não tenho saco pra essas coisas não. Mas eu te provo que sou Deus... Vem aqui, vem?"

O Filho da Puta olhou Deus desconfiado, mas acabou aproximando-se. Foi então que o Todo Poderoso cochichou algumas palavras no ouvido dele, que olhou assustado e perguntou:

"Péra lá! Como você sabe?"

"Eu estava lá em cima, oras... Aquele que tudo vê, lembra?"

"O que ele viu? O que ele viu??" - perguntou empolgada a Puta, que adorava um mexerico.

"Ele não disse nada que envolvesse masturbação e minha batedeira de ovos, viu?" - disfarçou o Filho da Puta, ao que Deus completou:

"Nem sobre não lavá-la antes de preparar uma omelete..."

O Filho da Puta decidiu que dava pra confiar em Deus, ainda mais agora que ele ajudara a esconder sua receita secreta. Por outro lado, a Puta e o Desconhecido foram ao banheiro escovar os dentes.

Quando eles voltaram, Flor de Eucalipto falou:

"Ok! Agora temos que cuidar desses corpos!!!"

Quando a Puta e o Desconhecido recuperaram a consciência após desmaiarem de susto ao ver um coelho falante, o Filho da Puta explicou que ela era sua irmã gêmea, que estava com a alma dentro do coelho e todo o resto da história que tá lá no "Resumo dos Capítulos Anteriores".

"Ah sim, agora tudo faz sentido..." - sorriu a Puta - "Muito prazer em te conhecer, Flor de Eucalipto!"

"O prazer é meu, Dona Puta, já ouvi falar muito da senhora...."

"Ah, bobagem... Você deve estar me confundindo com outra pessoa com o mesmo nome..." - sorriu a Puta, enquanto o Desconhecido dava um sorriso orgulhoso de "essa é minha garota."

"Bem, apresentações feitas, hora de trabalharmos... Como eu disse antes, nós precisamos nos livrar dos corpos..."

"Ué, vamos chamar o IML." - disse o Filho da Puta - "Eles tem um serviço delivery de buscar corpos, não?"

"Não, não... Nós podemos ter que dar explicações para a polícia..."

"E se dissermos que foi uma briguinha no poker?" - interrompeu o Desconhecido.

"Até poderia funcionar, é verdade... " - concordou Flor de Eucalipto enquanto olhava para a parede derrubada e os corpos metralhados - " mas não podermos correr riscos. O melhor é picar os corpos em pedaços pra dificultar a identificação e esconder os restos..."

"Posso fazer bracholas com eles!" - disse a Puta.

"Bracholas! Bracholas!" - empolgou-se o Desconhecido.

"Espera aí..." - disse o Filho da Puta - "nós temos Deus aqui, afinal. E aí, Deusão, não rola dar uma acertada nessa zona não?"

"Então... Na verdade, isso é um problema..."

"Problema?"

"Entendam... Pra poder ajudar vocês, eu tive que virar de carne e osso. Ainda tenho minha memória e conhecimentos, mas os poderes de Deus e tal, não."

"Pô... Até quando Deusfica do meu lado, ele perde os poderes e não consegue me ajudar... Sou mó azarado mesmo!" - resmungou o Filho da Puta.

Deus ficou penalizado e tentou consolar:

"Se você quiser eu ainda consigo fazer o truque de tirar uma moeda de sua orelha..."

"Epa! Podem parar com esse papo de mágica pois vai rolar porrada aqui se alguém quiser botar o coelho na cartola!" - indignou-se Flor de Eucalipto - "Mas retomando... Então tá decidido, os pronomes viram Bracholas. E sei lá, vocês podem fechar o rombo na parede com um pouco de Silver Tape pra disfarçar."

"Beleza coelha, vou começar cuidando dos corpos." - disse o Desconhecido, virando-se pra cozinha - "Ei Puta, onde você guardou a faca elétrica?"

"Ih, bem... Ela quebrou quando eu tava usando ela pra coçar minahs costas... Faz assim, usa aquela faquinha de plástico que veio no rocambole..."

O Desconhecido voltou com a faquinha de rocambole e começou a serrar o primeiro corpo.

"Bom, isso resolvido, agora temos a outra questão importante..." - disse Flor de Eucalipto - "saber mais sobre nossos verdadeiros pais."

"Putz, tinha até esquecido disso... " - admitiu o Filho da Puta - "Ei, Puta, o que você se lembra daquela noite?"

"Noite, que noite?"

"A noite que você me achou, pô..."

"Ah sim, essa noite que aquelas pessoas também tavam perguntando... Poxa, todo mundo só fica perguntando do mesmo assunto, coisa mais chata, viu?" - resmungou a Puta - "o que vocês querem saber?"

"Tudo!" - respondeu Flor de Eucalipto e completou - "Desde o começo!!!"

"Bom, no início havia o nada..." - disse a Puta.

"Ei! Essa fala é minha!" - reclamou Deus.

"Nhé, nhé... Já virou domínio público, bobão..." - a Puta mostrou a língua.

"Ninguém mais respeita Deus..." - resmungou Deus.

"Puta... Por favor, não seja tão detalhista... Fale só de quando vocês nos encontraram."

"Bom, a gente entrou no Saigon e viu um casal."

"Como eles eram?"

"Ah, nem olhamos muito, sabe? É meio grosseiro ficar olhando os clientes de um puteiro... Eles então nos entregaram um cesto com duas crianças, o meu Filho da Puta e a irmã dele, que nós acabamos deixando lá... Até hoje sinto remorsos disso, e queria muito saber que fim ela levou."

"Mãe, a filha que você deixou lá é ela, pô!" - disse o Filho da Puta, apontando para Flor de Eucalipto - "Nós já falamos que essa coelha é minha irmã gêmea!"

"Nooossa, não tinha feito a ligação entre as coisas!" - e abrindo os braços, correu para a coelha - " fiilhiinhaaaa! Puxa, você tem até o nariz da família!"

O focinho de Flor de Eucalipto tremeu enquanto ela esforçava-se para não chorar emocionada, e então ela falou:

"Puta, não me considere fria, mas agora eu estou preocupada é com a Dominação Mundial. O que mais você lembra dessa noite?"

"Bom, pra decidir quem a gente ia levar, nós decidimos que o menino era 'cara', a menina 'coroa', e jogamos uma moeda."

O Filho da Puta deu soquinhos leves nas costas de Flor de Eucalipto:

"Perdedora, perdedoraaa..."

Após morder a mão do irmão, a coelha disse:

"Não é disso que estou falando. Nossos pais verdadeiros, o que mais vocês se lembram deles?"

"Nós realmente não reparamos! Eles só entregaram o cesto e se afastaram sem falar nada..."

"Eu lembro de algo." - disse o Desconhecido, enquanto separava um tímpano em dois pedaços - "um deles usava uma camiseta onde estava escrito "Orgulhoso de ter nascido em Acapulco..."

"Ahá!" - interrompeu Flor de Eucalipto - "Isso é uma pista! Então nossos pais nasceram em Acapulco, hein? O que mais vocês sabem?"

"Bom, eu..." - disse o Desconhecido.

"Nada... Tanto que foi só isso que ele disse para os malvados, mesmo sob tortura." - disse a Puta - "Mas agora que eu percebi uma coisa, por que vocês estão perguntando pra gente se Deus, aquele que tudo sabe, tudo vê, está aqui e disse que ainda mantém todos os seus conhecimentos?"

Todos olharam para Deus, que pareceu ficar sem graça antes de se explicar:

"Bom, sabem... É, eu, tipo, posso ver tudo e tal, mas admito que dizer que veeeejo tudo é meio marketing... Eu até poderia ter visto tudo isso, mas... Sei lá, acho que eu viajei nessa hora..." - encabulado, Deus completou - "sabe como é, são vários planetinhas, um montão de pessoinhas..."

"Bom, então tá... Sabemos que nossos pais nasceram em Acapulco, e podemos ir pra lá tentar descobrir mais sobre nosso passado. Temos que ir rápido, porque Gerundina já está na dianteira!"

"Mas indo pro lugar errado..." - disse o Desconhecido.

"Como é que é?"

"Ah, eu dei uma trapaceada... Pra ela parar de cantar a maldita música eu falei da camiseta, mas não contei o fim do texto. A estampa era: 'Orgulhoso de ter nascido em Acapulco, Rondônia.'"

"Desconhecido! Você me prometeu que nunca mais ia mentir!" - gritou a Puta e foi para o quarto chorando.

"Bom, agora sabemos para onde devemos ir, mas ainda falta sabermos como..." - disse o Filho da Puta.

"Isso eu arrumo." - falou Deus - "onde tem um telefone?"

O Desconhecido apontou. Deus foi lá, discou para um número e voltou um pouco depois.

"Pronto, tudo acertado... Estão nos esperando lá embaixo."

"Opa, o que você fez? Deu ordens pro papa ou algo assim?"

"Ná, esses eu já exploro demais. Pra resolver uma coisa dessas eu só preciso ligar pra umas pessoas aí cobrando umas promessas..." - sorriu Deus.

"Tipo Máfia, né?" - sorriu o Filho da Puta - "Bom, mas o que você conseguiu? Um avião? Um helicóptero?"

"O quê, você está louco?" - assustou-se Deus - "Morro de medo de voar, rapaz! Só dei asas pros anjos pra eles poderem pegar coisas longe pra mim sem que eu tivesse que tirar meus pézinhos do chão! Vamos embora, o carro já deve estar chegando lá embaixo."

"Carro? Nós vamos pra Rondônia de carro?"

"Queria o quê, Filho da Puta, bicicleta? Fique sabendo que consegui um carro muito maneiro pra gente! Vamos chegar em Rondônia tranquilinhos e seguros! E de quebra, eu realizo meu velhor sonho: participar de um Road Movie!" - então Deus colocou um par de óculos escuros Rayban modelo caçador e começou a cantar Born to be Wild.

O Filho da Puta ficou indignado:

"Será possível que até você, Deus, apela pra essas obviedades musicais?"

"Espera até me ouvir cantando Raulzito..." - disse Deus, então acenou pro Desconhecido - "Adeus meu caro, foi um prazer... Saudações para sua patroa e desculpa qualquer coisa, hein?"

"Imagina, Deus... Foi um prazer conhecê-lo pessoalmente. Desculpem a Puta não ter voltado ainda, sabe como é, mulheres ficam sensíveis nesses momentos de recordações familiares..."

"Eu entendo, eu entendo... Bom, Filho da Puta e Flor de Eucalipto? A estrada nos espera..."

E cantando Highway Star, Deus passou pelo buraco. O Filho da Puta e Flor de Eucalipto foram logo atrás.

Eles entraram no elevador e então fizeram o que era mais propício para a ocasião: discutiram sobre o clima, mesmo Deus se esquivando o tempo inteiro, falando que as chuvas não eram culpa dele e que foi só um erro de projeto.

Quando eles chegaram no térreo, um homem se aproximou e entregou a chave de um carro para Deus.

"Aqui está, senhor! O modelo que você pediu!"

"Ah, obrigado meu filho."

"Sem problemas, Deus!" - mas então ele completou, sussurando - "Mas agora estamos quites, né?"

"Esse carro só compensa a promessa do vestibular, mas ainda tem umas outras pendentes..." - disse Deus consultando um caderninho que tirara do bolso.

"Pô, Deus... Esse carro vale pelo menos umas três ou quatro promessas, não? Olha só!!!"

"Barganhar é pecado, meu filho..." - disse Deus - " Duas promessas."

O homem concordou e afastou-se triste.

O carro era um Karmann-Ghia azul com a capota branca. Ano 68. Igual ao que o autor da novela sempre sonhou ter.

Deus sentou atrás do volante e, enquanto o Filho da Puta e a Flor de Eucalipto entravam, sorriu satisfeito para depois comentar:

"Mó barganha. Esse carro aqui valia até quatro promessas! Bom, meninos, agora começa a grande aventura. E o primeiro passo, totalmente necessário em nossa situação atual, é algo tão complicado e difícil que nem mesmo os melhores road movies tem coragem de mostrar. Vamos fazer algo fundamental para nossa viagem, mas que até eu, Deus, preferia não ter que passar por isso."

"O quê, Deus, o quê???"

"Passar no hiper-mercado..."

(continua no próximo capítulo:
14: "Fofinhando na Fofilândia dos Fofos com Farofa" )